R6 & TL: A história de ziGueira | ziGueira’s story

Existem jogadores que independente de qualquer coisa terão seus nomes gravados na história de suas respectivas modalidades. É o caso de Pelé no futebol, Kobe Bryant no basquete, Babe Ruth no beisebol, Felipe “brTT” Gonçalves no League of Legends, Gabriel “FalleN” Toledo no Counter-Strike e muitos outros.

Dentro do Rainbow Six é difícil cravar um nome tão influente como esses devido ao fato de termos diversos grandes nomes. No entanto, sem dúvidas o de Leo “ziGueira” Duarte é um que será lembrado por muito tempo.

Sua história e a do título estão intimamente ligadas, e se olharmos para sua infância e adolescência, vemos que um gênero o acompanha para qualquer lugar que vá: O FPS. A paixão e preferência pelos títulos desse gênero vem desde cedo, desde as arminhas de brinquedo que sua avó dava de presente até a influência de um dos grandes clássicos oldschool dos games.

“Eu jogava muito o 007 GoldenEye, até hoje eu sei passar da fase sem tomar um tiro se bobear. Se me der o controle de 64 aqui, eu zero a fase de cabo a rabo no modo mais difícil sem tomar um tiro. Eu sempre gostei muito de FPS e o GoldenEye foi o primeiro”, conta.

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É muito claro que sua vontade de competir vem de muito tempo. Essa vontade esteve o rodeando desde que era criança e jogava GoldenEye e passava incontáveis horas tentando zerar o jogo do modo mais convincente possível. Talvez ele tenha nascido com essa vontade de competição por vir
de uma família que compete nas mais diferentes modalidades competitivas.

Se você acredita, você pode chamar isso de destino.

“Sou de uma família de competidores, né? Meu tio competia em Mountain Bike, uma tia em Ginástica Olímpica, outra tia compete em corrida até hoje; e desde pequeno eu ia pra academia competir em Natação. Já competi em Mountain Bike também, joguei Futebol… Eu sempre gostei de competição, gostava do clima competitivo, aquele frio na barriga e a adrenalina – aquela vontade de ir no banheiro que dá antes de uma partida, não tem jeito”, fala já começando uma risada que seria acompanhada pela minha.

Olhando para o início de sua história, a de ziGueira não é tão diferente de outros jogadores profissionais do Brasil. Assim como muitos deles, ele começou com um jogo de um console antigo até ser levado aos esports nos computadores após começar a vivenciar o boom das LAN Houses no país.

Era apenas uma questão de tempo até ziG se encontrar em meio ao cenário competitivo dentro dessas LAN Houses.

Após o primeiro contato, foi impossível parar. E escolher jogar ao invés de comer se tornou algo comum. Foi juntando dinheiro das merendas da escola, que sua mãe dava todo dia para um salgado, que o ex-jogador começou a frequentar o Área 51 e deu o primeiro passo em sua história como um dos mais notórios jogadores brasileiros de Rainbow Six.

O começo de tudo

Não tardou muito e ele já estava indo ao estabelecimento onde dezenas de brasileiros, jovens e adultos, passavam horas competindo entre si e ansiavam pelo momento de levantar para gritar após uma operada no CS. Explorando diversos jogos de tiro, foi dentro de uma LAN House que Leo Duarte traçou um objetivo: os esports.

“Quando vi que tinha essa parte dos esports, e vi que eu jogava bem, sempre me destaquei, foi quando pensei: ‘Vou partir pra isso’. Começou dando certo, eu sempre estava nos melhores clãs e beliscava um campeonato ou outro, mas era tudo muito pequeno”, lembra da época em que começou a competir.

Dedicação, garra e muita vontade de vencer foram pilares que acompanharam o jogador ao longo de todos os títulos pelos quais teve a oportunidade de competir. Colecionando experiência competitiva em jogos como Point Blank, Counter-Strike, Assault Fire e diversos outros Battlefields; foi no BF4 que ele realmente começou a aparecer mais nos holofotes – tanto do competitivo quanto do entretenimento.

Já longe das LAN Houses e dentro de sua própria casa, eventualmente a paixão acabou se desfazendo após competir por anos no cenário do Battlefield. Transbordando um copo que há muito tempo vinha sendo enchido, aquele era o momento perfeito para mudar os ares.

“Eu jogava o BF4 e até tivemos um campeonato muito importante que era o da ESL; que era três vezes ao ano, e batemos as três na trave. Não conseguimos ir, sendo que a última a gente tava com o jogo na mão. Ali, pra mim, tinha sido a gota d’água.”

“Eu pensei ‘chega de Battlefield’, e sabia que estava chegando outro jogo: o Rainbow Six”, lembra.

Marretando a parede para um novo mundo

Foi ao lado de antigos parceiros do Battlefield 4 que o atual streamer da Liquid chegou ao cenário que se tornaria seu lar. E ele não chegou apenas trazendo entretenimento através de vídeos que influenciaram diversos brasileiros a comprar o título, mas também para se firmar competitivamente.

No Brasil, ziGueira se tornou um nome tão grande que contar a história competitiva do Rainbow Six sem ele como personagem pode soar até um pouco ofensivo para alguns. Um dos primeiros brasileiros a testar o jogo (fato inclusive que parece lhe trazer orgulho), ele esteve entre um dos grandes responsáveis a trazer o jogo aos holofotes da comunidade brasileira.

“Apostei no jogo achando que tinha tudo para dar certo, e deu. Sempre gostei de criar conteúdo. Então, aproveitava para juntar o útil ao agradável; ainda mais em um jogo que era tudo muito novo e diferente. Foi muito bom esse início”, adiciona.

“Foi legal porque a gente era um time que jogava junto no BF já. Então, a gente tinha algumas facilidades.”

Foi um começo relativamente tímido. Vídeos para um lado, e campeonatos ao lado de sua equipe para o outro. Mas, lentamente, ele começou a abrir caminho no Brasil para o que na época era um dos jogos mais inovadores do mercado.

E muito se fala sobre os cenários competitivos precisarem de grandes figuras para mantê-los interessantes. Além da emoção das jogadas, e a paixão que arde pelos times do coração, um dos principais motores que movimentam os bastidores dos esports é a história. Aquele tipo de narrativa que parece até mesmo o conto de um herói ou uma história antiga de grandes conquistas.

Como disse anteriormente, aqui no Brasil temos brTT no League of Legends e FalleN no de Counter-Strike. E da mesma forma, ziGueira entregou exatamente o que o Rainbow Six precisava.

“Eu sei que tenho influência”, confessa.

“Mira tá cavala”

Um personagem que teve um impacto gigantesco na evolução do cenário, que tem sua história diretamente entrelaçada com este, e tem noção do peso que carregou para construir o que hoje é um dos principais cenários competitivos do Brasil.

É engraçado, lembro até hoje de chegar em casa de um dia exaustivo de trabalho e, antes de me deitar, assistir por horas vídeos dele clicando em cabeças no jogo de tiro da Ubisoft. Foi por conta dessa época que Rainbow Six se tornou o primeiro jogo que comprei quando tive meu primeiro computador gamer.

“Não fico falando que tenho influência, porque parece que quero me gabar. Você mesmo falou que comprou R6 por minha causa e isso é legal pra caramba. Hoje eu vejo o Gabriel ‘AsK’ Santos, que tava me assistindo ser campeão em 2018, e falou que era super meu fã. E hoje tá jogando no time que eu joguei, saca?”, reflete.

“Isso é muito legal, ver essa galera do competitivo falando: ‘Comecei a jogar o competitivo por causa de você’”, responde com um ar de felicidade.

Carregando ainda no começo algumas dificuldades de adaptação, causadas pela diferença de proposta entre os jogos, rapidamente ziGueira se colocou como um dos jogadores mais valiosos do cenário de Rainbow Six.

Vice-campeão da primeira Pro League latino-americana e a participação no pódio de outros grandes campeonatos como o Brasileirão, foi uma questão de tempo até chegar ao topo ao lado de organizações como paiN Gaming, Black Dragons, BRK Esports.

“Eu, com 30 anos na época, sempre achei que me dedicava mais que os outros. Isso ninguém vai tirar da minha cabeça. Pra mim, eu queria ser muito mais campeão do que todo mundo que tava ali dentro comigo. Isso pode ser pelo fato de eu estar me dedicando mais, ou pelo fato de eu sentir mais falta daquilo, de não encarar como brincadeira”, conta.

Sua visão profissional sobre o cenário trouxe muitas conquistas e o colocou em um lugar que todo brasileiro almejava chegar um dia: nos holofotes do cenário internacional. O mais estranho é que ele é o dono do bordão “mira tá cavala”. Parece que desde o começo ziGueira sabia qual seria seu possível destino final, e o mais importante de todos.

Em 2018, se tornou o primeiro membro da Team Liquid no Brasil.

Formando a primeira Cavalaria

Assim como a história de ziG e do Rainbow Six nacional se entrelaçam, a Team Liquid foi mais um dos laços que chegou para fortalecer ainda mais essa corrente. Com um dos elencos mais bem sucedidos do Brasil na época, e com uma das principais faces do cenário competitivo, foi junto dos jogadores que a organização deu seus primeiros passos em solo brasileiro.

“A gente ia fechar com a Fontt, mas aos 45 do segundo tempo recebemos proposta da Liquid e da SK. O Rafa era manager da Fontt na época e ficou chateado porque a gente tava quase fechando. Mas foi o que eu falei, e sem querer menosprezar eles, mas é tipo você ser jogador de futebol quase fechando com o XV de Piracicaba e chega o Real Madrid querendo fechar contigo”, lembra do primeiro contato.

Mas não demorou até que Rafa se juntasse ao elenco dentro do “Real Madrid” dos esports. ziGueira, bullet1, nesk, xS3xyCake, yuuk, Sensi e novo manager foram os primeiros membros a representar o uniforme da organização dentro de terras tupiniquins. Após poucos meses ao lado da BRK, era hora de dar um passo além em todos os quesitos.

“Não vou falar que ganhar em dólar é ruim, tá? Não posso ser hipócrita. Mas isso daqui vai muito além disso”, conta.

Foi algo muito acima dos padrões brasileiros da época. De organizações que utilizavam casas de praia como centro de treinamento a uma que daria toda a estrutura necessária para performar em alto nível, e ainda por cima teria uma remuneração acima do mercado.

Não é querendo puxar saco da organização para qual estou escrevendo, mas sinceramente, quem recusaria?

“A estrutura que eles te dão é absurda. Só pra ter ideia, tem um pessoal ensinando o AsK a dançar porque eles vão produzir conteúdo com ele dançando. Eles contrataram alguém pra vir aqui ensinar o moleque a dançar, parece algo meio fútil, mas é o carinho que eles têm. Temos um monitor de 240Hz que eles mandaram, temos uma estrutura, um psicólogo, um cozinheiro, uma baita GH.”

“Aqui a Liquid não trabalha com improviso, ela tem muito mais estrutura e é um time muito mais velho, entende melhor como funciona esse cenário. A estrutura que a gente recebe deles é absurda. Não tem outro time no Brasil que tenha essa estrutura”, relata o ex-jogador com palavras sinceras.

Por estar diretamente ligada à história de ziGueira, e por ter o R6 como seu primeiro investimento no Brasil, a Liquid também passou a ter grande influência em como o cenário se portou nos anos seguintes.

Buscando fazer diferente através do investimento em uma estrutura de qualidade, profissionais de saúde e trazendo o padrão internacional ao cenário brasileiro, a Liquid forçou outras equipes a fazer melhor. Aquele era um cenário que ainda caminhava a passos curtos para se tornar relevante, mas que acabou recebendo o empurrão que precisava em direção à profissionalização.

“Jogou a bola lá em cima, levantou o nível. Sabe quando você vai em uma loja de roupa e tem um monte de gente comprando e você fica olhando pra ver o que é? É mais ou menos a mesma coisa, a Liquid chegou e outros times ficaram ‘Opa, o que eles tão fazendo aqui? Rainbow Six?’. Acredito que outros times viriam para o R6 também, mas a gente rapidamente puxou a MIBR, a Ninjas in Pyjamas (NiP) e outros junto da gente”, observa sobre a influência da organização.

“Além de levantar a bola do cenário, tornando ele mais profissional. Chega uma empresa oferecendo essa estrutura. As outras equipes não tem como fazer por menos, tem que estar mais ou menos na mesma pegada que a Liquid.”

Um ano e quatro meses. Foi o tempo que precisou passar ao lado da equipe como jogador para ser campeão mundial na OGA Pit Season 3, levantar a taça da Pro League Season 7, em Atlantic City, e firmar a equipe como uma das mais emblemáticas e perigosas do cenário nacional.

Arrependimentos? Não. Aprendizados!

Bem-humorado e confiante em suas palavras, ziGueira é aquele tipo de pessoa que quando você conversa, além de dar risada a cada cinco minutos, sabe que ela é segura de si, segura de sua dedicação para alcançar o topo, de sua capacidade para cativar centenas e das decisões que tomou para chegar até onde chegou.

É aquele tipo de pessoa que quando você pergunta se existem arrependimentos em sua vida, responde de forma firme: “não”.

Existem aqueles que acreditam que mudariam muitas coisas de suas vidas com apenas uma ação diferente. Isso não é necessariamente mentira, mas Leo Duarte prefere deixar as coisas como estão. Acredita que cada acerto e cada erro é um aprendizado que o levaram a se tornar quem é hoje em dia.

“Não me arrependo. Pra falar a verdade, eu não tenho arrependimento nenhum na minha vida. Eu tento encarar tudo como um aprendizado. Tudo o que aconteceu foi do jeito que tinha que ter acontecido. Acho que se arrepender é algo muito forte, não me arrependo não”, avalia.

Em meio a todas as decisões boas e ruins que tomou ao longo de seus 33 anos de idade, tornar-se jogador profissional talvez tenha sido uma das melhores. Conforme começo a fazê-lo refletir sobre seu passado e falo sobre suas conquistas, ziG também começa a avaliar qual foi a que trouxe o maior orgulho em sua carreira.

E ele escolhe com facilidade um momento (que talvez seja óbvio, caso você seja um fã do Rainbow Six).

“Não tem como ser outra: ter sido campeão mundial. Atlantic City foi o auge. Não tem momento melhor do que aquele em que você se torna campeão, o melhor do mundo naquilo que você dedicou tanto tempo. É muito gratificante”, diz.

“Naquele dia, ninguém no mundo era melhor que nós seis. Ninguém. Todo mundo tentou, mas naquele dia fomos nós”. Enquanto ele fala, consigo sentir orgulho emanando de sua voz.

Mas nem tudo são rosas. O título é um momento de grande importância para sua carreira, mas entre jogadores, analistas e pessoas da comunidade, ainda há quem diga que o campeonato não era um mundial. Quando mencionei isso, pude ver ziG saindo daquela posição orgulhosa e abrindo seu coração.

“Falam que a Pro League não é mundial. Você pega dois times da América do Norte, dois da Europa, dois da Oceania e dois da América do Sul. Você é campeão e não é campeonato mundial. É o que? Eu matei 47, fui o segundo que mais matou, só fiquei atrás do Nesk, e me falaram que eu fui carregado. São coisas como essas que me tiraram um pouco dessa torcida do Brasil”, lembra.

Nadando contra a maré verde e amarela

Infelizmente, ele não pôde presenciar de perto uma das grandes conquistas que a região brasileira teve: se colocar à frente de todas as outras e dominar o cenário. Quando se é um dos pilares, no qual o cenário se apoiou para crescer, ver ele triunfar sem sua presença pode ser doloroso. No entanto, ele revela que a sensação na verdade é uma mistura de sentimentos.

“Vou te falar que gostei e não gostei. Gostei porque existem pessoas ali que merecem ser campeãs. O Lagonis, que sempre acreditei, e o Julio que jogou comigo também. Mas sei também que muito desse pessoal, quando a gente foi campeão não gostou, então me sinto nesse direito também de não gostar”, rasga o atual streamer.

Ainda que hoje se encontre em outra situação, e tenha uma cabeça diferente, parece que ziGueira ainda tem cicatrizes de momentos do passado. Em meio à resposta, o jogador relembra um acontecimento durante sua época de BRK.

“Quando a gente estava na BRK e perdemos uma das Pro League, fomos assistir a Fontt Energy jogar. Tem vídeo da gente a ‘um metro’ dos caras torcendo como se não tivesse acabado de perder, torcendo pra eles serem campeões. Algumas temporadas depois, a gente tava em palco em um hotel que era só descer o elevador. E tinha gente que não tava nem assistindo a gente na final. Isso me decepcionou um pouco”, lembra Leo.

Mas isso, segundo o próprio ziGueira, é coisa do passado. Inclusive já deixou isso bem claro para aqueles que o acompanham. Deixando desavenças no passado, hoje ele prefere apoiar aqueles que sempre estiveram ao seu lado, se resolver com os que teve algum conflito e afastar o que lhe faz (ou fez) mal.

“Eu já falei em público que eu não torcia pros times brasileiros, eu torcia pra perder. Queria que a Liquid fosse campeã de novo. Isso já mudou muito, já torço pra caramba e já me resolvi com algumas pessoas do cenário que era brigado por algum motivo; e outras prefiro só manter distância mesmo. Mas hoje torço mais pelas pessoas do que pela própria organização”, conta.

Ao longo dos anos competindo profissionalmente no cenário de Rainbow Six, a relação de ziGueira junto à comunidade sempre foi conturbada. Seja por suas opiniões, por seu nível apresentado dentro de jogo, ou até mesmo por conta de sua idade, que para alguns era motivo para o desempenho cair.

Essa última inclusive traz algo inegável: se você compete, em algum momento as mensagens de ódio chegarão. No entanto, apesar de admitir que também foram um dos motivos de o afastar do cenário, o ex-jogador da Team Liquid sabe que em meio a delas, recebeu diversas mensagens de apoio.

“O hate foi um dos motivos também que eu pensei em me afastar um pouco do R6. Comecei a jogar tudo que eu gostava, comecei a zerar vários jogos singleplayer e foi muito legal. Eu tô voltando agora e não quero inimizade com ninguém, torço pra Liquid, torço pros brasileiros, torço pra todo mundo agora”, revela.

“Mas é uma minoria, cara. O ódio aparece muito mais porque você vai se afetar muito mais. Você recebe dez mensagens maneiras em cima, uma pra hatear, mais dez maneiras embaixo e você vai se prender naquela mensagem de ódio.”

Assim como em uma de suas músicas favoritas, “Estranged” do Guns N’ Roses, ziGueira estava em um romance que não queria que acabasse, mesmo que o destino apontasse para essa direção. No entanto, a relação era com o cenário do Rainbow Six. Com o seu lar de muitos anos.

E realmente teve um fim.

O adeus necessário

“A minha vida é 100% Rainbow Six”, foi o comentário feito por ziGueira durante o documentário “Em Busca da Vitória” produzido pela Ubisoft em 2019. Após anos se dedicando a ajudar a erguer o cenário ao patamar que hoje se encontra, sabemos que a partir de 2019 essa frase deixou de ser verdade.

Era hora de pendurar o mouse e o teclado.

“Eu respirava Rainbow Six e me dedicava muito. Mas eu cansei”, confessou. Em meio a memes, pedido de casamento durante campeonatos e taças sendo levantadas, havia chegado a hora de tirar seu tão merecido descanso e deixar o cenário nas mãos daqueles jogadores que moldou, direta e indiretamente, ao longo dos anos.

Cameram4n, Lagonis, Bullet1, ion e toda a Cavalaria são apenas alguns dos nomes que tiveram alguma influência, ou a benção, de ziGueira e que hoje mantém o nível brasileiro tão alto.

“Pra mim aquilo era seriedade. R6 sempre foi seriedade”, crava com um tom sério.

Ele levava o jogo tão a sério, que revelou algumas das ideias mais intensas de treinamento que teve alguns anos atrás durante sua passagem pela Liquid. Ideias que na época eram taxadas como sérias demais, mas que o jogador acreditava serem essenciais para que o coletivo pudesse se sentar no trono de melhor do mundo. Hoje as ideias fazem parte da rotina das equipes brasileiras da Liquid.

“Até hoje acho que me dediquei muito mais, tanto é que coisas que a Liquid faz hoje de rotina, eu falei pra implementar na época. Mas falaram que ia virar escola militar”, conta. “Eu queria ter uma rotina para dormir e acordar. Queria uma rotina para horário de treino tático, físico e prático. Achava que a gente ia performar muito mais”.

A dedicação para colocar no topo as equipes, das quais participou ao longo dos anos, perdurou por quatro anos. Aquilo que era apenas uma profissão e um amor, passou a invadir seus sonhos. Mesmo nas horas que queria descansar, o Rainbow Six era quase como aquele pensamento que nunca sai de sua cabeça.

“Quantas vezes eu já sonhei com o jogo, com tático, com os barulhos de bomba e de desativador, já sonhei com algumas calls. Uma vez por semana eu tava sonhando com esse jogo”, lembra.

“Minha vida era 100% Rainbow Six. Eu acordava e ia dormir respirando R6. No meu casamento eu pensei: ‘Cara, eu sou maluco. Eu troco a minha mulher, a minha cama queen size em casa e a minha TV de 55” pra dormir do lado de um japonês (Sensi) de São Paulo numa cama de solteiro’. Às vezes eu preferia estar com esse pessoal, me dedicar ao jogo, do que estar com a minha família.”

O ponto final chegou após o Six Invitational 2019. Quer dizer, após o campeonato ele ainda ficou alguns meses ao lado da equipe. Mas a semente para explorar outros caminhos havia sido plantada naquele campeonato no qual a Liquid caiu ainda nas quartas de final e, ao voltar ao Brasil, presenciaria mais uma mudança de elenco.

As forças para reconstruir um castelo e manter a equipe no topo já não existiam da mesma forma como antes. “Voltamos para o Brasil e saiu o Gohan, voltando o PSK. Pra mim era aquilo de ter que caminhar tudo de novo pra tentar ser campeão, porque ia entrar um novo elo na corrente. Eu tinha acabado de casar, já tava muito estressado.”

“Foi quando pensei: ‘Pra mim já deu’”, conta ziGueira.

Havia chegado a hora de dar um novo passo, passar um tempo com as pessoas que tanto ama e finalmente começar a sonhar além do jogo.

Mudança de ares e um novo amor

Hoje, apesar de não vestir mais o uniforme dentro dos servidores, ziGueira ainda continua de mãos dadas com a Team Liquid. Atuando como streamer, o ex-jogador da Cavalaria revela que os planos são de focar em suas transmissões e na criação de conteúdo.

“É muito gostoso, muito tranquilo. Eu não tenho mais aquela preocupação de ter que ser o melhor nas minhas costas, apesar de gostar da competição. Jogo Valorant dando a vida, comemoro mais que os cara quando ganho uma ranqueada. Mas eu posso streamar o que eu quiser basicamente, é uma profissão que não tem como reclamar”, faz o balanço.

Agora como streamer da Team Liquid, ziGueira tem a oportunidade de transmitir o que quiser, quando quiser e espalhar entretenimento para sua comunidade. Uma liberdade que antes, de certa forma, não tinha.

Apesar de focado em entregar as melhores streams e ajudar a Liquid na produção de conteúdo, ziGueira tem os pés no chão. Isso porque o jogador admite não saber até quando poderá se dedicar a essas atividades.

Isso principalmente com a nova função que teve que assumir: a de ser pai. Um desejo antigo, que há alguns meses atrás se tornou realidade. Quando perguntei a ele sobre a paternidade, senti apenas sinceridade nas palavras que eram ditas. Senti que ele não encontraria algo que o deixasse mais feliz.

“Eu falo: você tem amor pela sua mãe, pelos seus amigos, pela sua namorada, mas pelo seu filho é diferente. Não consigo explicar. Dá vontade de pegar ela e ficar olhando uns trinta minutos, com ela fazendo caras e bocas, é muito gostoso. Eu termino minha live, tomo meu banho, vou malhar, já volto e fico com ela, abraço, dou um cheiro. Às vezes dou uma pausa na live e vou na sala pra ver como ela tá. Sou muito abençoado, é muito gostoso”, conta ziGueira.

A competição nunca acaba

Apesar de tudo isso, e toda a bagagem que carrega consigo, é difícil você apenas parar de fazer algo que parece ter nascido para fazer. Olhando para o histórico de sua família, é inegável que a competição esteja em seu sangue. Competir é algo intrínseco da pessoa Leo “ziGueira” Duarte.

Mesmo escolhendo deixar de lado a competição dentro do Rainbow Six, ele não consegue parar. Por mais besta que possa ser algo, ele torna em uma competição consigo mesmo.

“Eu parei de competir, mas compito comigo mesmo até hoje. Uma delas [das competições] é estacionar o carro na garagem o mais perto possível da parede, pra você ter uma ideia”, confessa o ex-jogador em meio a risadas.

Fora do mundo dos esports , e do mundo de baliza, ele procurou por algo radical que poderia preencher aquela vontade de ser o melhor de uma forma mais profunda. “Parei do FPS competitivo e hoje tô no Motocross, vou em corrida e sempre tô competindo em alguma coisa”.

Essa paixão por moto, inclusive, também vem desde sua infância. Dedicando os últimos anos de sua vida ao Rainbow Six, foi ao lado de um amigo que ziGueira começou a se enfiar no meio das pistas terrosas do Motocross.

“Tô há um ano no esporte, já fiz curso e tô adorando. Eu estou evoluindo rápido demais, já consigo andar com o pessoal que está há muito tempo andando. Eu me dedico bastante, isso daí eu tiro o chapéu pra mim mesmo. Porque quando eu pego alguma coisa pra fazer, eu tento me dedicar ao máximo. Tô amarrado pra caramba no Motocross”, conta.

Tão intrínseco quanto a vontade de competir, parece que com o decorrer dos anos, ziGueira também criou uma aptidão e alimentou um amor por algo em específico: a vontade de representar a Cavalaria. Ele já é membro da Team Liquid desde 2018, durante toda nossa conversa, em nenhum momento deixei de sentir que ele estava no time que nasceu para representar.

Desde títulos, campeonatos, decepções, derrotas até transmissões, até os mais variados conteúdos descontraídos que ziGueira faz parte, sinto que uma frase específica ecoa constantemente dentro de si desde o momento que vestiu o uniforme pela primeira vez:

Let’s go Liquid!

Time Stamp:

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